Gessinger, Lick & Maltz, ou simplesmente GLM, foi o último LP de estúdio da clássica formação dos Engenheiros, que inclusive dá nome ao vinil.
Sem dúvidas é o disco mais progressivo da banda, e um dos mais expressivos do gênero no Rock Nacional. Talvez essa seja a causa de sua incompreensão e até desconhecimento por parte do público brasileiro. A revista Bizz, inclusive, colocou-o na lista dos álbuns mais injustiçados do nosso Rock.
Influenciado por Pink Floyd e Rush, o LP é completo, quase transformando-se em uma única canção. Perfeito para audições mais atentas e minuciosas. No gosto popular “caíram” os hits “Ninguém = Ninguém” e “Parabólica”, as mais tocadas nas rádios da época. A primeira, inclusive, faz referência indireta à grande obra de George Orwell: “A Revolução dos Bichos”, que é fantástica.
Uma das curiosidades do Vinil é o logo da capa, com as letras GLM formando uma engrenagem. E daí vem outra inspiração: o LP de Emerson, Lake & Palmer: “ELP”. O visual ficou muito bom. Eu considero uma das capas mais bonitas de toda a discografia da clássica formação. As cores azul e amarelo destacam o LP em meio aos outros da coleção. O envelope interior é simples e bem feito. Na cor amarela, traz as letras, a foto do baixo de Gessinger e da banda. A contra-capa é ainda mais interessante. Uma gravura dos três engenheiros, bem ao estilo “pop arte” dá uma sensação única.
Logo no início do disco, percebemos a “pegada” progressiva do disco, com as três primeiras faixas emendadas, transformando-se numa só.
“Ninguém=Ninguém” é um Rock capaz de fazer pular o mais tranquilo dos ouvintes. A música é envolvida por côros, baixo pulsante, guitarra agressiva, e vocal gritado à altura do que a faixa pede. Sem dar tempo para o ouvinte respirar, a música “?Até quando você vai ficar?”, range uma porta e entra destruindo tudo, com a ajuda de um instrumentais e de sintetizadores inteligentes que dão uma cara ainda mais particular à obra. A terceira da sequência é “Pampa no Walkman”, um parafraseado com a própria obra dos Engenheiros remetendo à “Sampa no Walkman” do disco anterior, trata-se de uma música no estilo interiorano gaúcho, uma verdadeira poesia encravada em um álbum de Rock. Diz a lenda que a letra dessa canção foi rabiscada por Gessinger quando ainda tinha 12 anos. É a mesma história de “Metamorfose Ambulante”, de Raul Seixas.
O disco segue com “Túnel do tempo”, “Chuva de containers”, que é um poderoso Punk-Rock-Pulsante, até chegar à “Pose (anos 90)”, recentemente redescoberta e rearranjada para o Acústico Mtv, e traz uma mensagem extremamente positivista, com direito a final falso a lá Beatles e tudo.
O lado 2 do vinil, que é um lado bem mais tranquilo, é aberto com “No Inverso fica tarde + cedo”, uma bonita balada no piano, mas que ainda traz os feitos psicodélicos do primeiro lado. Depois se abre espaço para “Canibal vegetariano devora planta carnívora”, uma faixa também muito diferente do que os Engenheiros fizeram até então, que se trata de um Rock com frases esparsas. O trecho “Do It Yourself diziam”, da canção , era um lema punk dos anos 1970, que significa “Faça Você Mesmo”. O disco ainda vai com “Parabólica”, segundo single do disco, que apesar de ser uma grande música, parece sobrar no meio do álbum.
Para encerrar entram as três músicas que formam o interlúdio final do álbum. Um dos maiores encerramentos de um disco nacional em todos os tempos. “A conquista do espelho” , “Problemas… sempre existiram” e “A conquista do espaço”, são músicas que brincam o tempo todo com as palavras e com a situação em que o LP foi lançado , uma verdadeira coleção de paradoxos.
Mais atenção para “A conquista do espaço”, que a partir de vozes computadorizadas produzem um efeito espacial, de onde todo o disco é revisitado, citações de “Pampa no Walkman”, “Túnel do Tempo”, “A conquista do espelho”, aparecem ao longo da última música. O disco encerra com um aliviado “Francamente”, e um som que se assemelha à um rolo de fita acabando.
[…] Créditos para a capa do GLM por Programa Long Play. […]
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[…] Créditos para a capa do GLM por Programa Long Play. […]
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Esse foi meu primeiro álbum. Tinha 12 anos e ganhei de presente de aniversário da minha irmã que morava em outra cidade bem maior que a minha. Era CD e eu não tinha um toca CD na casa dos meus pais, por isso precisei ir até a casa de um amigo e gravar em uma fita. Os engenheiros são parte da minha vida, assim como minhas células. Fantástica análise. Concordo com cada palavra.
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